Barragem de Santa Clara, manhã alta. A geometria da água pesa em toda a paisagem. Pesa na beleza. Pesa na cota baixa que pesa a jusante na (míngua de) rega. Pesa na memória que sobra do salazarismo, nome perene neste mármore, nesta toponímia. A geometria da água nos dias de magia.
Já levo com produtos Microsoft há 20 anos redondos, desde o MS DOS 3.1 (1984/85) , e nunca a empresa me conseguiu impressionar pela positiva.
Bem. Há sempre uma primeira vez. Até para a Microsoft me causar uma boa impressão. Estou a testar o Windows Live Writer, acabadinho de sair, e só posso dizer bem. Para uma versão 1.0 (o equivalente, na Microsoft, às versões "beta", um pretenciosismo que fica bem à Google junto dos analfabetos e que deixa a indústria a sorrir) está muito boa.
A instalação podia ter corrido melhor: o installer andou aos pontapés com o framework .net e ainda tenho janelas a berrarem de vez em quando. De resto, esperem pela muita lentidão típica do código carregado de lixo e de curto-circuitos, ainda por depurar.
Normal.
O que não é normal num produto Microsoft, em especial nos últimos dez anos, é ser tão necessário, tão virado para as necessidades dos utilizadores. A empresa costuma chegar a estes níveis lá para as versões 3.xx testadas intensivamente em laboratórios controlados. Arriscarem assim on fly é verdadeiramente notável - e dá-nos a dimensão do desespero de Ray Ozzie, cavalgando um gigante cego que se aproxima do abismo.
Este é o primeiro texto escrito para aqui. Nem sequer fiz um teste preliminar, é logo a abrir em modo produção. De onde vem tanta confiança? Do facto de, depois de instalado, ter configurado sem problemas de monta o Live Writer para dois blogs Movable Type: um em plataforma de alojamento (weblog.com.pt) outro em instalação pessoal. Se correu tão bem com um MT, isto em Wordpress deve zunir.
Já vários dos tecnólogos de serviço escreveram sobre o Windows Live Writer, nesta página estão ligadas diversas críticas. Se costuma usar um editor, tem de experimentar este. Se não costuma, este é um bom começo: os editores poupam tempo e facilitam muitas tarefas (ao nível do código HTML - era uma benção que VOCÊ, sim, você mesmo, usasse isto, o seu código deixava de ser a porcaria que é, com tags misturadas e por fechar e o diabo a sete). E para quem mantenha diversos blogs, então, é imprescindível.
O período estival convida à indolência e devo por esta altura avisar que tenho andado intermitente entre períodos de descanso, uma constipação e períodos de trabalho. Por isto ainda não tinha agradecido ao Rogério Santos as muito amáveis palavras com que recebeu e criticou dois trabalhos meus no Expresso. Respondi-lhe no Indústrias Culturais, mas desconfio que algo terá falhado nos comentários, que não chegaram a ver a luz do dia. Desconheço mesmo se os leu. Adiante, porque aqui fica o meu agradecimento público.
Num texto sobre diferenças e preferências entre hard news, soft news e light news, e a propósito da minha peça para o caderno de Economia do Expresso sobre a efeméride da WWW, Rogério Santos saudou-me nestes moldes: «saíu do castelo que é a revista "Única", espaço de light news do semanário, para respirar, a semana passada em ensaio, esta semana em artigo factual». Eheh, é verdade que sabe bem mudar de ares. Foram muitos anos na Única, passei uma fase em que temi repetir-me e acabei "salvo" pela web 2.0 que devolveu às semanas um frenético ritmo noticioso. Mas a página precisava de uma remodelação. Não foi a minha remodelação, foi a de quem de direito.O Expresso ficou a ganhar, que é o mais importante do meu ponto de vista de ex-quadro e actual colaborador daquele semanário.
Mas mais interessante é este post em que o Rogério se debruça sobre a apaixonante temática do fim da galáxia Gutenberg, alvo do meu ensaio na revista Actual do Expresso no dia 29 de Julho. Apenas uma adenda, o Rogério Santos fala neste «optimismo tecnológico» e eu lavo daí as minhas mãos. O ensaio não aprofundava essa zona, mas não era intenção glorificar a tecnologia. Quanto ao «desaparecimento dos intermediários», Rogério diz não concordar mas eu tenho de dizer isto: no contexto em que o referi é um facto, não uma «ideia», como diz, ou interpretação. Hoje a publicação é acessível a praticamente qualquer pessoa sem passar o Crivo, como escrevi, «um batalhão de intermediários letrados ou até mesmo cultos cuja função consistia em tranquilizar a Humanidade acerca da proveniência, da conveniência e da competência das ideias escritas pelo autor».
Claro que isto não é teorizar sobre a necessidade dos intermediários letrados na nossa sociedade actual ou nalguma das próximas culturas que emergirão, fraccionadas, da implosão da Civilização do Petróleo e da globalização. Sobre isso tenho uma ideia, é verdade. Mas fica para outra altura.
(Ou como) um grande narrador é sempre alguém atento à luz e seus sobressaltos", João Lopes em 6ª, Diário de Notícias de hoje
A Federação Internacional de Jornalistas fez um estudo a nível mundial que pretendia identificar as implicações no produto jornalístico das mudanças na relação entre entidades empregadoras e jornalistas (págs. 16 e 17). Conclusão? Os jornalistas recebem menos do que há cinco anos, as redacções são cada vez mais compostas por jornalistas jovens, menos qualificados e mais baratos e os contratos a longo termos têm sido substituídos por contratos mais curtos ou colaborações. A consequência é a óbvia: a deterioração da qualidade editorial. Aquele tema de que se falou tanto em Maio, a propósito das relações entre agências e jornalistas” Carla Borges Ferreira em Meios & Publicidade
Olá, o meu nome é Paulo Querido e mantenho este espaço como extensão em linha de uma coluna no Correio da Manhã. Sou consultor de new media, jornalista e escrevo livros e artigos (e também algum código) sobre a net e na net desde 1989.